Os desafios da Classe Médica na gestão de clínicas e consultórios
O aumento constante da demanda por serviços especializados em Saúde representa uma excelente oportunidade de negócio para médicos, odontólogos, bem como para os demais profissionais da área. Contudo - mesmo as principais escolas de saúde do país - ainda não dispõem de disciplinas específicas destinadas à capacitação destes profissionais e essenciais à prática do empreendedorismo, tais como legislação, gestão administrativa, financeira, comercial, dentre outras.
Esse descompasso entre demanda de mercado e formação acadêmica, além de prejudicar o desenvolvimento deste setor vital para a sociedade, dificulta o acesso da população aos serviços de saúde preventiva e sobrecarrega o S.U.S. (Sistema Único de Saúde).
No intuito de promover o debate sobre os desafios e perspectivas destes profissionais no tocante ao empreendedorismo na iniciativa privada, a G9 conversou com o Dr. Rodrigo Alexandre Camargo, médico com mais de 15 anos de experiência em Gestão de Planos de Saúde.
1) Atualmente, como é a formação dos profissionais da Saúde, mais precisamente a dos médicos e odontólogos, no tocante à administração e gestão de clínicas e consultórios?
Não há formação alguma. Mesmo formadoras de profissionais liberais que terão seus consultórios, clínicas e demais oportunidades, as instituições de ensino não contemplam conhecimento gerencial ou administrativo nos planos curriculares.
2) Neste caso, quais são as dúvidas e dificuldades de gestão mais frequentes entre aqueles que desejam ter suas próprias clínicas e consultórios?
As principais dificuldades se referem às questões gerenciais, tais como o enquadramento nos regimes tributários adequados, o dia-a-dia das relações com planos de saúde, gestão de pessoas, além de dúvidas nas rotinas administrativas como a emissão de faturas, preenchimento de demonstrativos de serviços prestados, dentre outras. Outro grande desafio está em administrar a oscilação das receitas até o estabelecimento do fluxo financeiro da clínica/consultório.
3) Na sua opinião, que benefícios uma capacitação nesta área traria para o dia-a-dia do médico-empresário.
Penso que seria fundamental para a saúde financeira do profissional. Uma capacitação em gestão resultaria em aumento da produtividade e, consequentemente, numa melhoria da qualidade dos serviços.
4) Planos de Saúde: quais as vantagens e desvantagens da filiação?
A maior vantagem é contribuir para a formação de uma carteira de clientes, sobretudo para os médicos mais jovens. Por outro lado, há normas adminstrativas a serem seguidas, tais como processos e fluxos operacionais. Durante o período de adaptação é natural que haja uma redução das receitas por glosas devido a erros administrativos, porém, é uma relação 'inevitável' e que hoje faz parte da rotina da imensa maioria dos profissionais, sendo responsável por grande parte do seu faturamento.
Uma capacitação sobre este tema certamente teria enorme alcance e aceitação.
5) Em média, qual a participação percentual das receitas advindas de convênios no faturamento de uma clínica / consultório? Há diferença de remuneração conforme a especialidade?
Sim. Há uma grande variação em função da especialidade, formação da equipe, tempo de profissão, estado da federação, além de outros fatores. Em escala nacional, acredito que a variação percentual das receitas de convênios e de particulares seja na proporção de 80% / 20%, respectivamente.
6) Em termos de gestão administrativa / financeira, que orientação o senhor daria para os profissionais que estão entrando agora no mercado e que planejam abrir suas próprias clínicas e consultórios.
Eu recomendaria investirem em capacitação profissional ao final do curso / residência. Quanto antes, melhor.
» Leia Agora: Planejamento Sucessório: a função do conselho familiar